Cultura Viva na América Latina: integração para a descolonização de corpos, mentes e corações

Congresso reuniu ativistas da cultura em La Paz para fortalecer os laços e as políticas do setor


Máscara de estêncil utilizada para marcar o caminho da caravana de abertura

Para além de sua abundante diversidade de cores, o Estado Plurinacional da Bolívia recebeu outros matizes em maio. O I Congresso Latino-Americano de Cultura Viva Comunitária reuniu participantes de 18 países em La Paz, representando cerca de 300 iniciativas artísticas, coletivos e organizações culturais comunitárias, assim como 48 redes latino-americanas de temas distintos.

Organizado de forma colaborativa, de baixo para cima, o encontro refletiu a cooperação e a paixão que movem a integração cultural da América Latina. “Estamos em uma caravana de mais de 500 anos para chegar aqui”, indicou Iván Nogales, principal organizador do Congresso. “Movimentos anarquistas, socialistas, indígenas, todas as vanguardas possíveis, inclusive os companheiros das grandes revoluções do século passado, são também antecedentes que possibilitaram que chegássemos aqui”, complementou.

Foram seis dias de trabalho, festa e esperança. De 17 a 22 de maio, Laz Paz foi palco de apresentações artísticas, debates, oficinas, mostras e círculos de visão (que consistem em espaços livres de diálogo, trocas de experiências e construção de resoluções centradas em temas específicos que permeiam o tema da cultura comunitária) nos quais discutiu-se acerca de arte para transformação social, comunicação para uma democracia verdadeira, patrimônio para a construção do futuro dos povos, entre outros assuntos (confira as conclusões dos círculos de visão).

Para consolidar os encontros e articulações propiciados pelo Congresso, criaram-se novas instâncias de articulação em torno da Cultura Viva Comunitária, como o Parlamento Latino-Americano, a Rede de Cidades, a Rede de Universidades, o Encontro Latino-Americano de Hip Hop, a Plataforma de Comunicação e o Espaço de Cinema e Linguagens Audiovisuais pela Cultura Viva Comunitária.

Assaltos poéticos

Com o mote ¨tomar o céu por assalto¨, a primeira atividade pública do Congresso subiu até a cidade satélite El Alto com muita música, cor e alegria. Grupos de teatro, músicos, poetas, ativistas, dentre outros tipos de “artesãos da cultura”, participaram do cortejo e da intervenção urbana coletiva que, por meio de diversos assaltos poéticos, fez o percurso de El Alto, cidade satélite, a La Paz.

De acordo com Nogales, a proposta era “ressignificar o termo assalto, ao invés de tirar, vamos devolver à cidade, à população e à America Latina o direito do bem viver, da arte, do sonho e da alegria, transitando pelas poéticas do sonho, da rebeldia, da morte, da memória e do corpo”. (Confira a matéria completa e o vídeo sobre os Assaltos.)

Por um Parlamento Latino-Americano de Cultura Viva Comunitária

Entre as ações do congresso esteve a criação de um Parlamento Latino-Americana de Cultura Viva Comunitária. Representantes dos legislativos de 10 países (Uruguai, Brasil, Argentina, Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Costa Rica, Chile e Paraguai) compartilharam propostas e projetos de lei tendo como objetivo avançar para garantir 0,1% dos orçamentos nacionais para a Cultura Viva Comunitária. A deputada federal brasileira Jandira Feghali (PCdoB/RJ) coordena o processo de articulação do parlamento.

Uma celebração infinita

Os encontros que teceram o Congresso resultaram em conclusões (confira as resoluções do Congresso), mas mais do que isso, apontaram direções comuns para a cultura no continente. Os indicativos estão sendo sistematizados em distintos formatos – audiovisuais e gráficos – em materiais que circulam o continente, dando continuidade à narrativa de uma epopeia coletiva de características históricas.

Próximos encontros já estão sendo incubados e mobilizações indicam o potencial das forças locais que se fortaleceram na Bolívia – como é o caso da mobilização pela Lei Griô no Brasil, que se intensifica após o Congresso, e a continuidade do mapeamento colaborativo das iniciativas culturais do continente que teve início no evento. A integração e a solidariedade nos tornam mais fortes para sermos a mudança que queremos; tomando emprestadas as palavras de Paulo Leminski, “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”.

Esse texto e a imagem foram produzidos por Michele Torinelli, comunicadora e integrante do Coletivo Soylocoporti. Para tal, utilizou-se de diversos relatos produzidos durante e depois do Congresso, tendo como princípio a Comunicação Compartilhada (entenda do que se trata esse conceito e prática: http://www.congresoculturavivacomunitaria.org/cc/). Os textos utilizados foram:

Una Celebración Infinita;

Cultura, amor e política: descolonizar para democratizar;

Círculos de Visão contribuem com identificação de lutas;

Do sonho à memória: Congresso invade as ruas de La Paz;

Gestores públicos e legisladores pela Cultura Viva Comunitária.

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