Por Júlia Basso Driesen
Sábado, dia 21 de junho, ocorreu a grande comemoração do Solstício de Inverno, realizada por grupos de povos andinos e simpatizantes dos costumes e das causas indígenas. A festa foi documentada pelo Coletivo Soylocoporti – o documento final será produto da parceria estabelecida entre o coletivo e companheiros argentinos.
A comemoração do ano novo dos povos originários, Solstício de Inverno, representa a mudança de um ciclo da natureza em que a noite mais longa do ano encerra uma etapa, e a partir de então os dias vão se alargando. A festa mostra a cosmologia indígena, que trata o tempo de outra forma, e as relações interpessoais também.
O evento começou na noite de 21 de junho e se prolongou até a manhã seguinte. A noite é repleta de fogueiras para aquecer, esquentar a bebida e fazer a comida, partilhada por todos; há barracas para descanso e bandas de sikuris – grupos que tocam as quenas e os tambores – que se revezam em distintas rodas, cantando e dançando com a alegria da passagem do ano. Após os bailados dos sikuris, é o momento de cada roda fazer seus agradecimentos e pedidos para o novo ano que se inicia, realizando oferendas que são, então, levadas para uma grande fogueira comunitária. Todos se reúnem ao redor desta fogueira e alguns realizam discursos, cada um com um foco (político, espiritual, cultural etc) e esperam a vinda do sol. Ao amanhecer todos se voltam para o sol, erguem suas mãos como forma de captar a energia da vida, e reverenciam o grande Pai Sol.
Interessante perceber a comemoração do Inti Raymi em uma cidade como Buenos Aires, que não segue oficialmente o calendário mapuche. Esse evento proporciona a reflexão sobre a migração latino-americana (mais especificamente peruana e boliviana), e a situação dos migrantes residentes na metrópole.
O Soylocoporti esteve presente em todo o evento: pudemos participar dos rituais e conversar com indígenas – que discutem a situação dos migrantes em grandes centros, e também com não-indígenas – que lutam pela equalização dos direitos efetivos, e de melhores condições aos indígenas. Teremos como resultado final desta experiência um produto áudiovisual, fruto do trabalho com parceiros identificados na própria festa.
Os dias seguidos ao Inti Raymi foram dias de reflexão, discussão, organização e fechamento de parcerias entre os membros que participaram da comemoração e documentaram de alguma forma o evento.
No domingo assistimos os vídeos e conversamos muito sobre o que fazer com o material colhido durante a estada em Buenos Aires – o que a festa representou para cada um, as impressões e reflexões, qual linha de atuação seguir e quais possíveis colaboradores poderíamos buscar para um futuro trabalho.
Segunda-feira, nosso último dia na capital argentina, fomos primeiramente registrar o Inti Raymi realizado em uma escola municipal, que traz às crianças estudos de temas centrais sobre as questões dos povos originários (as histórias, as crenças, os costumes, a situação atual etc). Conversamos muito com o diretor, que colocou a importância do estudo de temas que fazem parte da realidade dos alunos, para que estes possam entender com mais clareza o que é ser latino-americano, e lidar com questões cotidianas com maior relativização e compreensão.
Após o Inti Raymi infantil, fomos à reunião com um dos representantes do coletivo COCOBO (Cordinadoria de la Colectividad Boliviana), responsável pela realização do Inti Raymi em Buenos Aires. Propomos o início de uma parceria entra as duas instituições, que se daria, primeiramente, a partir da produção audiovisual do material captado pelo coletivo Soylocoporti referente ao Solstício de Inverno, a ser editado e produzido por membros dos dois coletivos. A proposta foi aceita e a reunião bem sucedida, dando início a mais uma parceria latino-americana entre organizações que lutam por um mesmo fim, buscando fortalecer os laços de cooperação e solidariedade entre os países irmãos.
Tags: buenos aires, inti raymi, soylocoporti
ótimo saber de encontros com outras maneiras de ver o mundo, sabedorias ancestrais e parcerias. Viva a integração latino-americana e a valorização da nossa cultura, muitas vezes discriminada e silenciada.
estou ansiosa para ver essa película! mais interessante que o produto final, é a forma de articular e trabalhar com outras entidades latino-americanas!
Valeu galera! Bombaram mais uma vez! Viva a integração política e cultural da América Latina!
Sou fascinado pelas culturas latino-americanas, e compartilho do tema dessa postagem celebrando os ciclos sazonais…
Olha que ignorância, pensava que o Festival do Sol, o Inti Raymi e os outros 11 grandes festivais Incas fossem uma tradição antiga extinta…
Viva a integração cultural!
E o resgate da espiritualidade pagã antiga tradicional.
Gostei muito da matéria.
Gostaria de ver o filme também! Especialmente da música e dança ritual.
Obrigado SoyLocoPorTi por me tirar da ignorância! ^^