Posts Tagged ‘mídia livre’

Soberania digital e o debate dos ecoprotocolos

quarta-feira, julho 4th, 2012

Contribuição acerca da consolidação da autonomia e do compartilhamento livre nas redes digitais

Marco Antônio Konopacki

Michele Torinelli

Assim como os bens naturais podem ser utilizados tanto para o desenvolvimento comum quanto para a apropriação privada, em prol do lucro e a partir do controle proprietário, o ambiente digital sofre da mesma disputa. Esse embate torna-se perceptível, num primeiro momento, quando analisamos as diversas legislações restritivas que se apresentam ao redor do mundo e dos ocasionais casos de censura nas redes sociais mais populares.

Apesar de a internet ser euforicamente exaltada como a possibilidade de libertação dos movimentos sociais por meio da construção de um território livre de comunicação, sem a possibilidade de formação de oligopólios devido à sua característica distribuída, ela pode vir a ser um campo colonizado e amplamente controlado – o que aponta a emergência desse debate. (mais…)

Para que todas as mídias sejam livres

terça-feira, fevereiro 14th, 2012

III Fórum de Mídia Livre aponta comunicação como pauta estratégica e transversal para as diversas lutas e convoca mobilização rumo à Rio +20

Abertura do III FML, que aconteceu nos dias 27 e 28 na Casa de Cultura Mário Quintana). Imagem: Fora do Eixo.

Porto Alegre, berço do Fórum Social Mundial (FSM), recebeu novamente o encontro por um outro mundo possível, dessa vez em sua versão regional e com o tema “crise capitalista, justiça social e ambiental”. Entre as várias atividades que tomaram a cidade no final de janeiro, o III Fórum de Mídia Livre (FML) foi palco para a troca de experiências de comunicação e a construção de estratégias comuns.

A programação contou com relatos e análises da Primavera Árabe, da luta pela libertação palestina, dos indignados de Espanha e da regulamentação da mídia no Brasil pós Conferência Nacional de Comunicação e na Argentina – onde a Lei dos Meios foi aprovada. Outro tema de debate foram as “redes em redes”, que partiu de experiências para chegar em perspectivas de apropriação conjunta de práticas e plataformas livres, que facilitem a conjunção das diferentes lutas por uma sociedade mais digna, justa e livre.

Apropriação tecnológica, direito à comunicação e políticas públicas de comunicação

O III FML organizou-se a partir desses três eixos complementares entre si. O primeiro abrange as práticas de comunicação e a queda da barreira entre emissor e receptor – mais do que nunca, todos produzem e recebem informação, e surgem remixes e hibridizações. O segundo trata da importância de trazermos à tona os diversos discursos sociais e de garantirmos seu reconhecimento, para que a pluralidade de nossa sociedade encontre espaço nos meios de comunicação e escapemos à ditadura do pensamento único. Já o eixo referente às políticas públicas aborda a necessidade da regulamentação da mídia no Brasil, onde temos um cenário assustador de monopólio da radiodifusão e de falta de transparência e participação social nos processos decisórios.

Os eixos se complementam porque não basta nos apropriarmos dos meios acessíveis, desenvolvermos novas linguagens e que a mobilização social aconteça de forma efetiva e horizontal se os artigos da Constituição Federal referentes à comunicação continuarem sendo ignorados e carecendo de regulamentação, mantendo a propriedade dos meios de comunicação de massa em poucas mãos. Mas também não é suficiente garantirmos a democratização da mídia se não houver mobilização, envolvimento e construção de discursos. Além disso, não podemos travar a luta pela democratização da comunicação sem ter como objetivo maior a construção desse outro mundo mais justo e digno, onde todos tenham voz.

É importante termos claros os princípios que nos unem e as práticas que podem consolidá-los. O marroquino Mohamed Legthas, do portal E-joussour, compartilhou a experiência em seu país, onde a apropriação das redes sociais teve relevância para a organização popular contra o regime, mas terminou sua fala com o seguinte questionamento: de que adianta derrubarmos governos, ou acamparmos em praças, se tais atitudes não contribuírem efetivamente para a consolidação dos anseios democráticos?

Como disse o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, em outra atividade do Fórum Social Temático, “cuidado: o resultado pode ser pior, pode levar a uma nova forma de barbárie ou barbarismo. Queremos uma democracia real e participativa, mas como construí-la?”, provocou. (mais…)

III Fórum de Midia Livre mobiliza a comunicação rumo a Porto Alegre

sexta-feira, janeiro 13th, 2012

Quarta-feira 11 de janeiro de 2012, por Rita Freire
Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada

É a terceira edição promovida pela comunicação brasileira, desta vez com participação internacional, e exibe uma pauta que vai bem longe de um debate corporativo entre pequenos meios. É estratégica.

Dias 27 e 28 de Janeiro, a Casa de Cultura Mário Quintana, espaço acolhedor do centro da cidade de Porto Alegre, que ja foi moradia do poeta gaúcho que deu nome ao lugar, atrairá jornalistas, blogueiros/as, desenvolvedores e usuários de Software Livre e ativistas da comunicação para fazerem juntos o III Fórum de Mídia Livre.

O ambiente será particularmente propício nesses dias. O Fórum compartilhará espaço com o evento “Conexões Globais“, dedicado a oficinas e práticas de comunicação com uso de internet, e que falará por meio de painéis e webconferências com indignados e indignadas que mundo afora estão utilizando as redes para mudar regimes, contestar políticas autoritárias e defender direitos e democracia direta.

O Fórum de Midia Livre introduzirá nesse ambiente o debate conceitual e político e as propostas para uma comunicação radicalmente democrática. É a terceira edição promovida pela comunicação brasileira e exibe uma pauta que vai bem longe de um debate corporativo entre pequenos meios. É estratégica. Acena para o direito à comunicação como estruturante dos debates. Para as políticas públicas como condicionantes da regulação, acesso e democratização da mídia. E para a apropriação tecnológica como um dos horizontes imediatos do movimento e também ferramenta de mobilização.

Participarão organizações chave do movimento de comunicação brasileiro como Intervozes, Centro de Estudos da Midia Alternativa Barão de Itararé e FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Mídia, movimento Blog Prog (blogosfera progressista), publicações como Revista Fórum e Viração, coletivos desenvolvedores de plataformas em software livre (ver artigo), pontos de cultura como Pontão Ganesha de Cultura Digital e Pontão Eco, e iniciativas de comunicação compartilhada como a Rede Viração. Imersão Latina, Coletivo Soylocoporti, além da própria Ciranda e do site WSFTV. entre outros coletivos

Mesmo brasileiro, o Fórum de Mídia Livre mostra claramente que internacionalizou seus diálogos. Terá presenças vindas da primavera árabe, para uma ponte com o I Fórum de Mídia Livre no mundo afro-árabe, programado para este primeiro semestre ainda e que será apresentado por Mohamed Legthas, do portal Ejoussour, do Marrocos, ao lado de mídias que atuam na ou sobre a Palestina Ocupada, um estado de Apartheid em pleno século XXI.

Os debates terão contribuições de palestrantes da América Latina, que avança em políticas democratizadoras do setor e enfrenta enorme bombardeio dos grandes meios de comunicação. E será também o passo inicial de 2012 rumo ao II Fórum Mundial de Mídia Livre, que ocorrerá em junho deste ano, inserido no calendário da Cúpula dos Povos para a Rio + 20.

A programação geral do III Fórum de Mídia Livre pode ser conferida no site do FML.

Construção e troca: II Fórum de Mídia Livre

quinta-feira, dezembro 10th, 2009

Por Michele Torinelli

Prédio onde ocorreu o II Fórum de Mídia Livre, na UFES

Prédio onde ocorreu o II Fórum de Mídia Livre, na UFES

No último dia 04, integrantes do Coletivo Soylocoporti voaram rumo a Vitória (ES) para participar do II Fórum de Mídia Livre (FML), realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A programação foi intensa e os participantes, diversos: 60 das 82 iniciativas contempladas com o Prêmio de Mídia Livre, lançado pelo Ministério da Cultura esse ano, estavam representadas no encontro.

Momento do debate no GT "Fazedores de Mídia Livre"

Momento do debate no GT "Fazedores de Mídia Livre"

Após a abertura oficial, deu-se início aos trabalhos. No espaço “Fazedores de Mídia Livre”, discutiu-se o conceito de midialivrismo, as dificuldades de sustentabilidade no setor, o direito à livre expressão, a relevância social da apropriação das ferramentas de comunicação e novas ideias de experiências em mídia livre. Contribuíram para o debate Antônio Martins (Diplô na Rede), Marcelo Branco (Campus Party), Henrique Antoun (UFRJ), Pedro Markun (Jornal de Debates), Túlio Vianna (advogado e blogueiro), Edson Mackenzy (Videolog.com), Altino Machado (jornalista e blogueiro), João Caribé (consultor de mídias sociais / blogueiro), entre outros. Os demais Grupos de Trabalho tiveram como tema “Políticas de Fortalecimento da Mídia Livre” e “Formação para a Mídia Livre”.

Concomitantemente às discussões acerca do midialivrismo, realizou-se o Festival de Música Livre, que contou com debates e apresentações da cena independente durante a noite. Foram cerca de vinte shows de diferentes estilos e bandas de variadas regiões do país. O Festival aconteceu nas noites de 03, 04 e 05 de dezembro.

Troca entre Pontos

Atividade "Juntando as pontas dos Pontos de Mídia Livre"

Atividade "Juntando as pontas dos Pontos de Mídia Livre"

O segundo dia do Fórum (05/12) foi dedicado à troca de experiências. A atividade “Juntando as Pontas dos Pontos de Mídia Livre” permitiu a apresentação de diversas iniciativas de midialivrismo e um debate sobre sustentabilidade, além de propostas de consolidação da rede dos Pontos de Mídia Livre.

No último dia do encontro (06/12), os Pontos definiram as prioridades do debate midialivrista para a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que será realizada em Brasília entre os dias 14 e 17 de dezembro, e apontaram propostas a serem defendidas por eixo temático. Discutiu-se também a continuidade do Grupo de Trabalho Executivo (GTE) do Fórum de Mídia Livre, para o qual o Coletivo Soylocoporti disponibilizou sua contribuição. O primeiro encontro deste GTE renovado, que conta com 19 entidades, deve ocorrer em fevereiro de 2010.

Troca de experiências entre os Pontos de Mídia Livre marcou o FML

Troca de experiências entre os Pontos de Mídia Livre marcou o FML

O FML permitiu uma rica troca de experiências e apontou alguns caminhos para o midialivrismo: cursos de formação e linhas de pesquisa sobre mídia livre no âmbito acadêmico, articulação de proposta de edital Pontos de Mídia Livre junto às secretarias de cultura nos estados e municípios e integração da rede de Mídias Livres com o movimento de Economia Solidária.

Alguns dados desse relato foram tirados da página do Programa Cultura Viva.

Pelo direito a voz e pela democratização do conhecimento

terça-feira, dezembro 8th, 2009

Por Michele Torinelli

O que é a cidadania? Será que devemos nos contentar em exercê-la na escolha restrita inerente ao ato de consumo e inserindo nossos votos em urnas de dois em dois anos? Para incidir de fato em nossa realidade e contribuir na sua contínua construção, devemos discuti-la. Isso significa olhar à nossa volta e interpretar as informações que nos chegam, elaborando discursos próprios. O midialivrismo segue essa lógica e vai além: atua em redes. Ou seja, os diversos olhares se cruzam, trocam suas impressões, numa dinâmica de construção coletiva.

Imagine se o brilhante sujeito que manipulou o fogo pela primeira vez tivesse a não tão brilhante ideia de patentear a sua descoberta. Parece absurdo? Mas não é o mesmo princípio dos direitos autorais? Por que não contribuir para a expansão do conhecimento, e criação de novas ideias a partir dele, e continuar fomentando a lógica da competição? Se tivesse sido assim com o fogo, muito provavelmente a tecnologia ainda estaria engatinhando devido à falta de compreensão de coletividade de um único sujeito, que desconsiderou haver utilizado as forças da natureza e o conhecimento acumulado por diversas gerações. A partir do momento em que deixarmos de querer tirar vantagem de nossas descobertas, poderemos utilizar o conhecimento desenvolvido pelos outros, e a sociedade como um todo só ganhará com isso. As licenças flexíveis e as iniciativas de software livre atuam nesse sentido.

Tal raciocínio também se aplica ao uso restrito dos meios de comunicação. Afinal, trata-se de tecnologias que permitem a ampliação do discurso, o diálogo em escala social. Então por que eu não tenho direito de utilizar as ondas de radiodifusão, emitidas no ar – esse espaço que não pertence a ninguém e é utilizado por todos, para emitir a minha opinião? Por qual motivo a Globo pode chegar a mais de 90% dos lares com sua programação repleta de estereótipos e preconceitos e você tem que se contentar a assistir Video Game na sala de espera do dentista?

Está mais do que na hora de reivindicarmos o que nos pertence! Um meio de comunicação que ainda é livre e tem custo relativamente baixo é a internet. A partir dela, podemos estabelecer redes e conectar outras análises do cotidiano, que muitas vezes não estão presentes na mídia hegemônica. É claro que temos que levar em consideração que nem todos têm acesso à internet, por isso a necessidade da universalização da banda larga, da ampliação de telecentros e de formação popular nas tecnologias da informação e no processo de construção do discurso. Também devemos ficar atentos e impedir que projetos de controle da rede se consolidem. Mas é fato que a internet permite que, talvez pela primeira vez, utilizemos a comunicação para a construção popular da realidade, em larga escala e de forma interativa, e questionemos o monopólio dos demais meios de comunicação e a lógica de mercado que prioriza o lucro ao desenvolvimento social.

Comunicação não é só entretenimento e negócio. Antes e acima disso, exercer a comunicação é direito humano, que só será cumprido se nos apropriarmos de seu potencial e reivindicarmos sua democratização.

Essas reflexões são resultado dos debates do II Fórum de Mídia Livre, que ocorreu de 04 a 06 de dezembro na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória. Participaram representantes das iniciativas contempladas pelo Prêmio de Mídia Livre, midialivristas e demais interessados. Saiba mais sobre o FḾL.

Portal Soylocoporti inscreve-se como Ponto de Mídia Livre

quinta-feira, março 26th, 2009

O Portal do Soylocoporti (http://soylocoporti.org.br) foi inscrito para disputar o edital Pontos de Mídia Livre do Ministério da Cultura (MinC). Concorrendo na categoria regional a um prêmio de quarenta mil reais, o Portal Soylocoporti permite a articulação dos associados e parceiros de forma livre e com maior visibilidade. Além disso, a iniciativa busca reforçar a pluralidade contida no coletivo e a construção colaborativa de seu conteúdo.

De acordo com um dos coordenadores da entidade, Marco Amarelo Konopacki, “a inscrição no prêmio deriva da importância que o portal tem hoje para a organização, já que ele foi desenvolvido de modo a fortalecer o papel de cada um dos associados. A interatividade e a participação por meio de ferramentas digitais são a tônica desse instrumento”, afirma.

O edital do MinC foi lançado durante o último Fórum Social Mundial. Tendo como objetivo reconhecer e valorizar iniciativas de comunicação compartilhada e participativa, pretende realizar um levantamento sobre o alcance, êxitos, problemas e necessidades dessas iniciativas. Serão premiadas propostas que tenham sido iniciadas até 1º de julho de 2008.

Caso o Portal Soylocoporti seja contemplado com o prêmio, a proposta é investir o montante no aprimoramento das tecnologias utilizadas e construir um documento guia de política editorial para o portal.