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Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida é lançada no Paraná

quinta-feira, junho 2nd, 2011

Brasil lidera o uso de agrotóxicos no mundo, sendo responsável por 16% do consumo mundial e 84% na América Latina

Pelaez inicia o debate no auditório da Reitoria da UFPR, lotado para o lançamento da campanha

Nessa terça-feira (31) foi lançada em Curitiba a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, iniciativa que reúne cerca de 50 entidades do Brasil com o objetivo de ampliar o debate junto à sociedade sobre o consumo, a venda e os impactos ambientais provocados pelos agrotóxicos. O encontro foi realizado pela organização Terra de Direitos, o Coletivo Maio de estudantes de Direito da Universidade Federal do Paraná – UFPR, a Coordenação dos Movimentos Sociais do Paraná e a Via Campesina.

O lançamento faz parte da Jornada de Lutas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, que vai até sexta-feira (03). Milhares de militantes do estado estão na capital paranaense para discutir seu projeto de sociedade e pressionar o poder público pelos direitos dos trabalhadores do campo.

Para abrir o debate, o professor do Departamento de Economia da UFPR, Victor Pelaez, apresentou o panorama do mercado de agrotóxicos no mundo – cerca de 70% está nas mãos da Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont, Dow e Basf. “Essas empresas controlam a cadeia de alimentos a nível mundial, pois comercializam as sementes transgênicas e os agrotóxicos”, aponta Pelaez.

O Brasil está entre os seis maiores consumidores, e é o mercado com maior expansão no planeta, sendo responsável por 16% do consumo mundial e 84% na América Latina. Segundo o professor, o país consome uma quantidade quatro vezes maior de agrotóxicos do que produz de commodities, o que desmistifica o argumento de que o uso dessas substâncias propicia aumento na produção.

Fiscalização e impactos

Apresentação da gerente da Anvisa demonstra a flexibilização da legislação nas últimas décadas

Para exemplificar o poder dessas corporações, Letícia Rodrigues da Silva, da Gerência Geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conta que catorze ingredientes ativos foram colocados em reavaliação desde 2008. “Até agora, conseguimos terminar a avaliação de apenas seis deles, depois de passar por cinco ações judiciais”, declara. Letícia afirma que todas as empresas citadas têm produtos irregulares no mercado, dos quais o registro da fórmula não corresponde ao produto comercializado. Ainda no ano passado, a Anvisa interditou 9 milhões de litros de agrotóxicos.

Segundo a gerente, análises do Programa de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos – PARA identificaram um quadro grave de contaminação. Além de diversos alimentos apresentarem teores de agrotóxico acima do permitido, como ocorreu em 80% do pimentão, 50% do morango, 44% da couve e 56% da uva nas amostras analisadas, foram encontrados produtos químicos não autorizados pela Agência.

Os efeitos da utilização desses produtos podem ser percebidos nos seres humanos e no ambiente. Letícia apresentou uma pesquisa recém publicada pela Universidade do Mato Grosso, realizada em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, que identificou presença de agrotóxicos no leite materno, no ar de escolas rurais e na água da chuva. “O Aquífero Guarani, na região de Ribeirão Preto, está com resíduos de agrotóxicos, e não tem nenhuma lei que proíba a utilização dessas substâncias”, denuncia a gerente.

As pesquisas refletem as consequências das transformações ocorridas no Brasil na década de 1970, com a chamada “Revolução Verde”. Neste período, abriu-se caminho para as sementes geneticamente modificadas, para a mecanização do processo produtivo do campo, a produção de commodities e a dependência de fertilizantes e agrotóxicos. Segundo informações trazidas pelo professor Victor Pelaez, nos últimos 10 anos o uso desses produtos no país cresceu 391%, chegando a um milhão de toneladas aplicadas nas lavouras brasileiras em 2010.

Enfrentamento aos agrotóxicos

Segundo o procurador de Justiça Saint-Clair Honorato Santos, é preciso que as secretarias de agricultura dos estados façam análises nas centrais de abastecimento, distribuição e venda de alimentos, para conhecer e interferir nas situações em que há irregularidades. “Nós estamos processando criminalmente as empresas que estão produzindo alimentos contaminados e com produtos químicos proibidos”, afirma o procurador, referindo-se à atuação do Ministério Público.

O governo do Paraná anunciou em abril a criação de um grupo de trabalho para revisar a legislação ambiental referente à agricultura, iniciando pela Lei dos Agrotóxicos, de 1983. A iniciativa visa a flexibilização do uso de agrotóxicos e do registro de novos produtos químicos. Honorato dos Santos propõe a elaboração de projetos contrários, que busquem impedir o avanço do agrotóxico no país.

“Se não tivermos controle social e uma população dizendo que não quer sua água, seus alimentos, sua terra contaminada, não conseguiremos mudar essa situação. É preciso que vocês se façam ouvir lá onde as leis são feitas”, convoca Letícia.

Texto: Ednubia Ghisi e Michele Torinelli

Imagens: Michele Torinelli

Fomento sem plano

sexta-feira, maio 6th, 2011

Audiência pública em Curitiba discute lei de incentivo à cultura no Paraná

Representantes do poder público e do movimento cultural paranaense se reuniram na última terça-feira, 03 de maio, para discutir a criação do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice). A audiência, realizada na Assembleia Legislativa do Paraná, foi convocada pela Secretaria de Estado da Cultura (Seec – PR) – a primeira entre 15 consultas a serem realizadas no estado até 14 de junho.


Representantes das organizações populares reivindicam Plano e Conselho Estadual de Cultura.

Apesar de enaltecer a intenção de debate público, Gilberto Manea, da articulação da Rede Paranaense de Pontos de Cultura, acredita que “não faz sentido discutirmos a lei de fomento sem termos um Plano Estadual de Cultura”. Ele defende que a lei deve estar atrelada à criação do Conselho Estadual de Políticas Culturais, “com formato deliberativo, para garantir a gestão pública das políticas culturais”.

O Paraná figura entre os três estados da União que não possuem conselho, um dos pressupostos para a entrada no Sistema Nacional de Cultura. Por esse motivo, o estado deixa de receber verba do governo federal e não participa do Programa Cultura Viva, que reconhece e financia iniciativas populares, os “Pontos de Cultura”.


Manifestantes pressionam para a assinatura do convênio com o governo federal

Profice

Segundo exposição de Maurício Cruz, coordenador de incentivo cultural da Seec, o Profice divide-se em duas vertentes: Fundo Estadual de Cultura, que pode utilizar até 0,5% da receita tributário líquida do Paraná; e Programa de Incentivo, por meio de convênio de renúncia fiscal (com pessoas físicas e jurídicas) de até 0,2% do ICMS.

Marila Velloso, representante do Fórum de Dança do Paraná, acredita que a lei de incentivo é um dos mecanismos necessários para legitimar a cultura no estado. “O cenário, de anos e anos de falta de diálogo com as políticas públicas, vem mudando desde 2002, com o desenvolvimento do Sistema Nacional de Cultura, a PEC 150 e o ProCultura, que está tramitando no Congresso”, explica. “É um espírito, mas também um conjunto de recursos e regulamentações”, acresenta Velloso.

“Com a aprovação da PEC 150, e a aderência do Paraná ao Plano Nacional de Cultura, o investimento no Fundo Estadual de Cultura seria de 1% do orçamento do estado”, adverte o deputado estadual Professor Lemos (PT – PR), que frisou a necessidade de termos um plano estadual para as políticas culturais.

Outro ponto levantado foi a representação da sociedade no comitê do Profice, que segundo Manoel Neto, do Fórum Permanente de Música do Paraná, está limitada à representação corporativista. “Temos que considerar questões étnicas e regionais, não nos restringindo à representação por setores artísticos”, defende.

Perspectivas

O secretário estadual de cultura, Paulino Viapiana, esclareceu que o intuito das audiências públicas é debater com a sociedade a minuta do projeto de lei do Profice, para que seja alterado e aperfeiçoado na medida do possível. “Trabalharemos no sentido do alinhamento com as políticas públicas nacionais”, sinaliza o secretário, que assumiu o compromisso de implantar o conselho ainda esse ano.

Para Gilberto Manea, é indispensável que o Paraná vá além e assine o Acordo de Cooperação Federativo, comprometendo-se com todos os princípios, diretrizes e ações do Plano Nacional de Cultura, “o que inclui o conselho, mas engloba o pacote todo”, explica. Marila Velloso sugeriu que o convênio seja assinado na última audiência pública sobre o Profice. A audiência que encerra o ciclo de debates pelo estado será realizada novamente em Curitiba, no dia 14 de junho.


Por Michele Torinelli, do Coletivo Soylocoporti