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Tombou hoje a principal liderança quilombola do recôncavo Baiano

segunda-feira, dezembro 29th, 2008

Sr. Altino da Cruz faleceu hoje pela manhã, aos 60 anos de idade,
enquanto trabalhava na sua roça. Ele não resistiu à notícia de que o
juiz Fábio Rogério França, da 11ª vara da justiça federal, concedeu
uma liminar de reintegração de posse solicitada pela fazendeira Rita
de Cassia Salgado de Santana exigindo que este retire a roça que
cultiva a mais de 40 anos e foi herdada de seus pais. Utilizando-se de
má fé, a fazendeira levou o juiz a concluir que trata-se de uma
ocupação recente quando é notória pela comunidade e pelos dados
apresentados nos autos que trata-se de uma comunidade tradicional.

Na Segunda e terça feira desta semana, o Sr. Altino da Cruz,
acompanhado de outros membros da comunidade quilombola, esteve fazendo
uma romaria por diversos órgãos públicos denunciando a situação e
exigindo providências. Na segunda feira os representantes da
comunidade estiveram no INCRA, na SEPROMI e no IBAMA. Na terça,
voltaram ao INCRA e estiveram na Polícia Federal, entidade encarregada
de cumprir a reintegração de posse. Na quarta feira Altino voltou pra
casa visivelmente abatido e inconformado com a ameaça de sair da roça
que herdou dos pais e na qual trabalha por mais de 40 anos.

Hoje pela manhã, enquanto trabalhava em sua roça, Sr. Altino da Cruz
deu um forte grito e tombou no chão. Foi Levado em um carro de mão por
seus companheiros até o posto de saúde da vila de São Francisco do
Paraguaçu e já chegou morto.

QUEM MATOU ALTINO DA CRUZ?

A comunidade de São Francisco do Paraguaçu é um grande símbolo da
resistência do povo quilombola no Brasil. Historicamente explorada por
grandes fazendeiros do Recôncavo Baiano, especialmente pela família
Santana, tem sido vítima dos mais violentos ataques desde que foi
reconhecida como comunidade remanescente de quilombo.

As agressões são originadas também pela família Diniz que recentemente
implantou uma  RPPN dentro do território da comunidade Remanescente de
Quilombo. Esta família tem usado a RPPN para captar recursos de órgãos
estaduais e federais e tem sido alvo de investigação sobre
irregularidades, o que levou a suspensão de projetos em andamento e
impediu a liberação de mais recursos.

Assim, as agressões e ataques foram concentrados sobre Sr. Altino da
Cruz, a principal liderança da comunidade remanescente de quilombo. A
comunidade foi vítima de várias ações de pistolagem e violência
policial como constatado em relatório oficial do Polícia Federal.
Policiais armados invadiram a casa de Sr Altino da Cruz causando
constrangimento e indignação a toda comunidade. A aliança entre os
Santana e os Diniz, em conjunto com interesses ruralistas nacionais,
articulou uma reportagem produzida pela rede globo de televisão que
foi provada ser fraudulenta através de sindicâncias de órgãos oficiais
como IBAMA, INCRA e Fundação Cultura Palmares. Desde então, a luta da
comunidade Remanescente de Quilombo São Francisco do Paraguaçu
evidenciou-se como um símbolo da luta quilombola no Brasil e a
comunidade tem sido alvo de freqüentes processos judiciais. A atual
estratégia adotada pelos fazendeiros é impetrar sucessivas ações indi
viduais de reintegração de posse para confundir o judiciário.

O que o Movimento dos Pescadores e Quilombolas do Recôncavo tem a
dizer para Elba Diniz, Lu Cachoeira e sua família Santana que a morte
de Sr. Altino da Cruz não trará desânimo para a luta do povo
quilombola. Pelo contrário, fecundará a terra onde nascerão muitas
flores para embelezar a grande mesa no dia da festa da titulação no
nosso território.