Por Carolina Goetten
A Comissão de Educação e Cultura vai realizar em 3 de maio, em Curitiba, um reunião pública sobre fomento cultural, no teatro Sesc da Esquina. O objetivo é receber contribuições sobre o programa Procultura (Projeto de Lei de Incentivo e Fomento à Cultura), relatado pela deputada Alice Portugal, acolhendo propostas, sugestões e moções.
O Procultura é um novo projeto de lei que se propõe a discutir a cultura do país e aprimora a Lei Rouanet. Vai integrar o país num programa de fomento cultural e, como ainda não foi aprovado, está sujeito a alterações e aberto a sugestões e acréscimos.
A nova lei vai dinamizar a Lei Rouanet e torná-la mais abrangente, de modo a ampliar recursos voltados à produção cultural e diversificar mecanismos de financiamento. São nove fundos setoriais, dentre eles o Fundo do Acesso e Diversidade, que promove incentivo e fomento à diversidade cultural. Grande parte dos avanços na reforma são oriundos de encaminhamentos da primeira Conferência Nacional de Cultura, realizada em 2005. Compareça e ajude a construir esse projeto para garantir o financiamento à produção cultural do país.
As sugestões, propostas e moções devem ser encaminhadas por escrito antes do início da reunião, marcada para as 19 horas. Haverá oportunidade de participação oral e sustentação das propostas. O Sesc da Esquina localiza-se na rua Visconde do Rio Branco, 969.
Informações: Ana Carolina Caldas – 9211-4915
Soylocoporti – Pela Integração Latino-Americana
Pontão de Cultura Kuai Tema
CONVOCATÓRIA
Curitiba, 03 de fevereiro de 2010
Prezados associados, prezadas associadas,
De 5 a 7 de março de 2010, o Coletivo Soylocoporti realiza sua 3ª Assembléia Geral Ordinária. Ela ocorrerá no CEPAT (Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores), na rua João Batista Gabardo, 158, Sítio Cercado, Curitiba – PR, com abertura oficial às 18 horas do dia 5 de março.
Com base no Estatuto Social do Coletivo Soylocoporti, entre os objetivos principais da Assembléia Geral estão:
a) eleger o Conselho Diretor e o Conselho Fiscal;
b) aprovar as contas da associação;
c) as diretrizes políticas de atuação da entidade;
d) definir o planejamento de trabalho anual;
e) deliberar sobre Núcleos de Trabalho ou Programas Estratégicos;
f) apreciar o parecer do Conselho Fiscal relativo à prestação de contas;
g) deliberar sobre inclusão ou exclusão de associados.
Também serão debatidos na assembléia os seguintes temas:
a) conjuntura de Comunicação, Cultura e América Latina;
b) avaliação interna do Soylocoporti;
c) agenda política;
d) financiamento institucional, debate de prestação de serviço e contribuição financeira;
e) utilização dos prêmios;
f) outros temas pertinentes.
Convocamos as associadas e os associados do Soylocoporti a participar da Assembléia, que será constituída “por todos os associados em pleno gozo de seus direitos estatutários, tendo direito a voto os associados efetivos”, conforme determina o estatuto da entidade. Lembramos que é dever dos associados efetivos participar da Assembléia, e qualquer ausência deve ser, portanto, justificada. Associados efetivos que deixarem de comparecer à Assembléia Geral ordinária por dois anos consecutivos sem justificativa por escrito podem ser desassociados.
Contamos com sua participação.
Atenciosamente,
Rodrigo Bonifácio Vieira, representante jurídico, pelo Conselho Diretor.
(Angélica Varejão, Érico Massoli Ticianel Pereira, Gustavo Guedes de Castro, João Paulo Mehl, Marco Antônio Konopacki, Michele Torinelli, Rachel Callai Bragatto e Rodrigo Bonifácio Vieira).
Coletivo Soylocoporti
Rua Itupava, 1299 Cj 312 – Hugo Lange – Curitiba – PR
(41) 3092-0463 – [email protected]
http://www.soylocoporti.org.br
Debates em São Leopoldo compartilham experiências e apontam perspectivas para a construção de um outro mundo
No contexto do Fórum Social Mundial, no qual diversas possibilidades de criação de alternativas se cruzam, reflexões de como integrar lutas complementares são inerentes. Atividades da Reunião Pública Mundial de Cultura e da Casa Cuba abordaram essa temática nesta tarde (27) em São Leopoldo.
Frente Ampla: unidade da esquerda uruguaia
Em todo o Uruguai, país que possui população equivalente a da Grande Porto Alegre, há mais de 700 comitês de base do FA. “Fazem parte dos comitês muitos cidadãos que não atuam em nenhum movimento específico, mas que compactuam com os princípios e com as práticas do FA. Abrigamos toda a esquerda, sem exclusões. Uma única vez discutiu-se a expulsão de um grupo e após seis meses de debate optou-se por mantê-lo”, conta.
“O segredo do FA é não querer eliminar as contradições – elas existem e devemos aprender a lidar com elas”, argumenta Raquel Diana, assessora da Secretaria de Cultura de Montevidéu que contribuiu com o debate. O compartilhamento da experiência do FA ocorreu em substituição à atividade com Emir Sader, que não pode comparecer.
Cuba, integração latino-americana e a superação do neoliberalismo
Martinez fez um balanço entre o que seu país representa e seus desafios concretos. “Cuba está convertida no exemplo de que a utopia é possível, e de que se pode lutar por um mundo melhor apesar de todas as dificuldades. O país está pagando um alto preço por sua ousadia nos últimos 50 anos, por sua rebeldia ao domínio imperialista na América Latina. Cuba não é um país estático, é como qualquer outro organismo social: vivo, que precisa adaptar-se a novas realidades, e nesse processo com certeza estão os cubanos.”
Frison acredita que “somente será possível libertar Cuba de seu cerco com a unificação dos esforços latino-americanos na construção de uma sociedade cooperativa e solidária”. O militante petista apontou o que considera os principais desafios para a articulação da esquerda na América Latina, entre eles superar situações pré-capitalistas, presentes em grande parte do nosso continente, rumo a uma situação transformadora. “Precisamos consolidar uma experiência alternativa de caráter socialista, uma possibilidade de articulação sem esquecer nossas diferenças – construir uma vértebra comum de enfrentamento dos setores conservadores do nosso continente.”
por Michele Torinelli, da Agência FSM10
Com o objetivo de difundir as atividades e propósitos do Fórum Social Mundial deste ano surge a Agência FSM 10. Formada por TV OVO (RS), Fábrica do Futuro (MG), Coletivo 77 (MG), Pontão de Cultura São Leopoldo (RS), Pontão de Cultura Kuai Tema (PR) e Coletivo Soylocoporti (PR), a agência atua em São Leopoldo e tem como foco a 2ª Reunião Pública Mundial de Cultura, debates e os shows da Casa Cuba. Ainda conta com colaboradores por toda a Grande Porto Alegre.
A iniciativa dá continuidade ao trabalho de comunicação colaborativa desenvolvido nos últimos Fóruns e busca ampliar seu alcance e participação. A Ciranda Internacional de Comunicação Compartilhada implantou essa ideia em 2001 no I Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, apresentando uma alternativa ao jornalismo de mercado. A proposta é a leitura crítica e a troca, em contraposição à cultura do lucro da mídia comercial.
Os conteúdos produzidos serão disponibilizados na página da Agência FSM 10 e são baseados no conceito de instantaneidade, possibilitado por plataformas como blog wordpress e twitter, pela edição de entrevistas na hora e posterior postagem no youtube e fotos abrigadas no flickr. A participação de todos é bem-vinda – a Agência FSM 10 encontra-se na sede do Pontão de Cultura de São Leopoldo, localizado na Biblioteca Pública Municipal. O e-mail para contato é [email protected].
Mais informações:
http://fsm10.nosdarede.org.br/
http://www.youtube.com/user/agenciafsm10
www.twitter.com/agenciafsm10
www.flickr.com/photos/agenciafsm10
Contato:
Francele Cocco
051 9773 7708
Por Carolina Goetten
O novo ano já começa em clima de Festival de Cultura. Ontem, 18 de janeiro, o coletivo Soylocoporti e outros parceiros na organização do evento reuniram-se a fim de traçar uma avaliação geral, discutir as próximas atividades e fazer dele um movimento cultural cada vez mais forte dentro e fora do Estado.
O objetivo da reunião foi diagnosticar os principais erros e acertos cometidos na última edição do festival e iniciar o processo de planejamento que orientará o plano de preparação do Festival 2010, em torno de sete propostas-chave: reflexão, manifestação, articulação, mobilização, fortalecimento, comunicação e meio ambiente. Segundo Roberta Schwamback, membro da equipe de organização pelo Soylocoporti, a importância de se dar um tempo até avaliar o Festival, que ocorreu em novembro do ano passado, é que todos estão com a cabeça fria. “Assim, podemos ficar mais próximos do que pensamos e do que queremos para ele”, ressalta Roberta.
A palavra de ordem dos presentes foi de ampliar a participação de outros grupos e artistas, com o objetivo de fortalecer o evento como um movimento cultural. O encontro possibilitou a discussão de uma metodologia de trabalho calcada nos pontos do Festival 2009 que devem ser mantidos para garantir o sucesso da próxima edição. “A Comunicação Compartilhada, uma novidade em relação aos anos anteriores, foi um grande acerto da edição 2009 e que precisa ser fortalecido nas próximas, problematizando e viabilizando a prática da construção de notícias”, assinala Rachel Bragatto, também do Soylocoporti.
Nos pontos de discussão, os objetivos. O consenso entre a equipe é traçar uma noção estratégica do Festival de Cultura. “Por que fazemos o Festival? O que queremos com ele?”, propõe Marco Konopacki. A ideia, para este ano, é buscar ações concretas e pontuais para que a força do evento seja potencializada cada vez mais e aperfeiçoar o sistema de Comunicação Compartilhada, que permite ao cidadão manifestar suas opiniões, livre de censura ou cerceamento da sua liberdade de expressão.
Para ver, viver e sentir a Mata Atlântica na pele, aquela mesma mata que abriga um ou outro mico-leão dourado e uns poucos jacarés-do-papo-amarelo – e da qual restam 7,3% da vegetação original -, Érico e Amarelo, associados do Coletivo Soylocoporti, aventuraram-se a percorrer de bicicleta os 697 quilômetros que separam a capital do Paraná, Curitiba, e a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, pela costa litorânea. No itinerário, um objetivo: visitar, durante o trajeto, os mestres fandangueiros catalogados pelo Museu Vivo de Fandango, concentrados na região.
Saindo de Curitiba no sábado, 26/12, o primeiro município visitado pela dupla foi Paranaguá, no litoral paranaense, a 91 quilômetros da capital. É a mais antiga cidade do Estado, cujo centro histórico – que comporta, dentre outros pontos turísticos, uma estação ferroviária, uma estrada de ferro, velhos casarios, igrejas, museus e o próprio Porto de Paranaguá – atrai visitantes de todo o país. De lá, Érico e Amarelo seguiram à ilha Superagui, no litoral Norte do Paraná, cujo acesso é exclusivamente marítimo e se estende nas redondezas de Guaraqueçaba. A ilha é tipicamente fandangueira e caiçara: os mochileiros Érico e Amarelo tiveram um contato próximo com a cultura de Fandango, um dos pontos fortes da região.
Após passar a noite de domingo na Praia Deserta (praia de Superagui, com 37 km de extensão) eles seguiram na segunda-feira rumo à Ilha do Cardoso, já do outro lado da divisa com São Paulo. A ilha é um santuário ecológico que conserva biomas como a Mata Atlântica e o manguezal, habitada por caiçaras que sobrevivem da pesca e da cultura de subsistência e, em menor porcentagem, índios Guaranis, somando ao todo cerca de 480 habitantes.
Da Ilha do Cardoso, que também abriga um núcleo fandangueiro, eles devem seguir a Cananéia, a primeira cidade fundada no Brasil, na extensão da Baía de Paranaguá, e de lá rumo ao destino final, Paraty. Desde que saíram da capital paranaense, eles vêm seguindo a costa atlântica documentando a viagem por fotos e vídeos, para registrar a sensação de experimentar, de perto, a vida animal, vegetal e humana que se desenvolveu por ali.
PS: Sempre que conseguirmos contato e eles entrarem na web vamoa atualizar.
Por Michele Torinelli
No último dia 04, integrantes do Coletivo Soylocoporti voaram rumo a Vitória (ES) para participar do II Fórum de Mídia Livre (FML), realizado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A programação foi intensa e os participantes, diversos: 60 das 82 iniciativas contempladas com o Prêmio de Mídia Livre, lançado pelo Ministério da Cultura esse ano, estavam representadas no encontro.
Após a abertura oficial, deu-se início aos trabalhos. No espaço “Fazedores de Mídia Livre”, discutiu-se o conceito de midialivrismo, as dificuldades de sustentabilidade no setor, o direito à livre expressão, a relevância social da apropriação das ferramentas de comunicação e novas ideias de experiências em mídia livre. Contribuíram para o debate Antônio Martins (Diplô na Rede), Marcelo Branco (Campus Party), Henrique Antoun (UFRJ), Pedro Markun (Jornal de Debates), Túlio Vianna (advogado e blogueiro), Edson Mackenzy (Videolog.com), Altino Machado (jornalista e blogueiro), João Caribé (consultor de mídias sociais / blogueiro), entre outros. Os demais Grupos de Trabalho tiveram como tema “Políticas de Fortalecimento da Mídia Livre” e “Formação para a Mídia Livre”.
Concomitantemente às discussões acerca do midialivrismo, realizou-se o Festival de Música Livre, que contou com debates e apresentações da cena independente durante a noite. Foram cerca de vinte shows de diferentes estilos e bandas de variadas regiões do país. O Festival aconteceu nas noites de 03, 04 e 05 de dezembro.
Troca entre Pontos
O segundo dia do Fórum (05/12) foi dedicado à troca de experiências. A atividade “Juntando as Pontas dos Pontos de Mídia Livre” permitiu a apresentação de diversas iniciativas de midialivrismo e um debate sobre sustentabilidade, além de propostas de consolidação da rede dos Pontos de Mídia Livre.
No último dia do encontro (06/12), os Pontos definiram as prioridades do debate midialivrista para a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que será realizada em Brasília entre os dias 14 e 17 de dezembro, e apontaram propostas a serem defendidas por eixo temático. Discutiu-se também a continuidade do Grupo de Trabalho Executivo (GTE) do Fórum de Mídia Livre, para o qual o Coletivo Soylocoporti disponibilizou sua contribuição. O primeiro encontro deste GTE renovado, que conta com 19 entidades, deve ocorrer em fevereiro de 2010.
O FML permitiu uma rica troca de experiências e apontou alguns caminhos para o midialivrismo: cursos de formação e linhas de pesquisa sobre mídia livre no âmbito acadêmico, articulação de proposta de edital Pontos de Mídia Livre junto às secretarias de cultura nos estados e municípios e integração da rede de Mídias Livres com o movimento de Economia Solidária.
Alguns dados desse relato foram tirados da página do Programa Cultura Viva.
Por Michele Torinelli
O que é a cidadania? Será que devemos nos contentar em exercê-la na escolha restrita inerente ao ato de consumo e inserindo nossos votos em urnas de dois em dois anos? Para incidir de fato em nossa realidade e contribuir na sua contínua construção, devemos discuti-la. Isso significa olhar à nossa volta e interpretar as informações que nos chegam, elaborando discursos próprios. O midialivrismo segue essa lógica e vai além: atua em redes. Ou seja, os diversos olhares se cruzam, trocam suas impressões, numa dinâmica de construção coletiva.
Imagine se o brilhante sujeito que manipulou o fogo pela primeira vez tivesse a não tão brilhante ideia de patentear a sua descoberta. Parece absurdo? Mas não é o mesmo princípio dos direitos autorais? Por que não contribuir para a expansão do conhecimento, e criação de novas ideias a partir dele, e continuar fomentando a lógica da competição? Se tivesse sido assim com o fogo, muito provavelmente a tecnologia ainda estaria engatinhando devido à falta de compreensão de coletividade de um único sujeito, que desconsiderou haver utilizado as forças da natureza e o conhecimento acumulado por diversas gerações. A partir do momento em que deixarmos de querer tirar vantagem de nossas descobertas, poderemos utilizar o conhecimento desenvolvido pelos outros, e a sociedade como um todo só ganhará com isso. As licenças flexíveis e as iniciativas de software livre atuam nesse sentido.
Tal raciocínio também se aplica ao uso restrito dos meios de comunicação. Afinal, trata-se de tecnologias que permitem a ampliação do discurso, o diálogo em escala social. Então por que eu não tenho direito de utilizar as ondas de radiodifusão, emitidas no ar – esse espaço que não pertence a ninguém e é utilizado por todos, para emitir a minha opinião? Por qual motivo a Globo pode chegar a mais de 90% dos lares com sua programação repleta de estereótipos e preconceitos e você tem que se contentar a assistir Video Game na sala de espera do dentista?
Está mais do que na hora de reivindicarmos o que nos pertence! Um meio de comunicação que ainda é livre e tem custo relativamente baixo é a internet. A partir dela, podemos estabelecer redes e conectar outras análises do cotidiano, que muitas vezes não estão presentes na mídia hegemônica. É claro que temos que levar em consideração que nem todos têm acesso à internet, por isso a necessidade da universalização da banda larga, da ampliação de telecentros e de formação popular nas tecnologias da informação e no processo de construção do discurso. Também devemos ficar atentos e impedir que projetos de controle da rede se consolidem. Mas é fato que a internet permite que, talvez pela primeira vez, utilizemos a comunicação para a construção popular da realidade, em larga escala e de forma interativa, e questionemos o monopólio dos demais meios de comunicação e a lógica de mercado que prioriza o lucro ao desenvolvimento social.
Comunicação não é só entretenimento e negócio. Antes e acima disso, exercer a comunicação é direito humano, que só será cumprido se nos apropriarmos de seu potencial e reivindicarmos sua democratização.
Essas reflexões são resultado dos debates do II Fórum de Mídia Livre, que ocorreu de 04 a 06 de dezembro na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória. Participaram representantes das iniciativas contempladas pelo Prêmio de Mídia Livre, midialivristas e demais interessados. Saiba mais sobre o FḾL.
Por Carolina Goetten
Quatro dias para debater o papel social da mídia parece insignificante diante da dimensão do poder desigual e oligopólico que ela exerce sobre a sociedade brasileira. Contudo, levando em conta o movimento em prol da Conferência de Comunicação como a primeira vez em que se questiona o outrora inquestionável sistema midiático do país e, principalmente, em que se discutem propostas para democratizá-lo, evidencia-se um avanço considerável: convocar a Confecom Nacional e todas as suas etapas preparatórias estaduais são um passo fundamental rumo à redefinição da centralizada estrutura midiática vigente no Brasil.
A comunicação brasileira é controlada por cinco famílias e endossa a deficiência da democracia numa sociedade em que o povo, ironicamente, não exerce seu direito de falar. As grandes redes de televisão, rádio e mídia impressa – abrangentes em poder e reduzidas em quantidade – monopolizam a informação, veiculam o que é de seu interesse e suprimem ou manipulam os fatos que não desejam mostrar. A concentração é densa, rígida, bem estruturada e, para quebrá-la e distribuí-la, é preciso primeiro discutir o tema, notificar as deficiências e apresentar propostas que gerem a transformação. Se antes a grande mídia veiculava e calava, hoje ela ainda veicula, mas já não consegue calar. A Confecom criou um espaço para reunir todos os que se incomodam com o monopólio e propagar cada vez mais esse incômodo, até que se crie uma atmosfera de total repúdio e desejo de transformação.
A Conferência Nacional de Comunicação ocorrerá em Brasília entre 14 e 17 de dezembro e, para garantir um debate pluralizado e estender a discussão mesmo a quem está longe do Distrito Federal, foram criadas etapas preparatórias nos 27 Estados brasileiros. As conferências municipais e estaduais garantem que a discussão distribua-se por todo o território e que o debate atinja todas as regiões do país, independente da localidade, e que diversos municípios possam encaminhar propostas à Confecom Nacional, de acordo com as suas necessidades ou suas visões sociais.
Barreiras ainda no debate
Ainda assim, a importância da mobilização pela conferência parece ter sido ignorada em vários Estados. Em muitos deles, o debate foi convocado pela própria sociedade civil. São Paulo, por exemplo, diante da aparente relutância e do descaso do governo estadual, proferiu o chamado popular pela Confecom por meio da Assembleia Legislativa, o que ocorreu também em Roraima e no Rio Grande do Sul. Já em Tocantins, Santa Catarina e Rondônia, a letargia governamental foi ainda mais crítica: até mesmo os parlamentares se omitiram e a responsabilidade sobre a articulação recaiu sobre a Comissão Organizadora Nacional.
O descaso evidencia que, além da sociedade ter de enfrentar o poderoso oligopólio midiático e todas as dificuldades para desestruturá-lo, ainda se depara com barreiras na criação de espaços que tornem possível discutir e questionar a comunicação. Na contramão da resistência da elite à realização do debate, até agora já foram realizadas quatro conferências estaduais (Paraná, Acre, Piauí e Rio de Janeiro) e 24 ainda ocorrem nas próximas semanas (confira o calendário clicando aqui). Todos os Estados brasileiros terão a etapa preparatória e nomearão delegados para representá-los em Brasília.
Edgard Rebouças, professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do Observatório de Mídia Regional, expõe a importância de agir efetivamente para permitir as mudanças de que o sistema de comunicação brasileiro necessita. Segundo ele, a indignação só surte efeito se acompanhada da luta prática. “É preciso sair da militância romântica e lutar com profissionalismo”, aponta Rebouças.
Estrutura da Conferência
Embora a primeira Conferência Nacional de Comunicação represente um avanço na sociedade brasileira, algumas falhas preservam a desigualdade do próprio tema que discutem. O debate abrangerá três eixos temáticos: meios de distribuição, produção de conteúdo e cidadania (direitos e deveres). Os participantes são classificados em membros do poder público, do setor empresarial ou da sociedade civil organizada e o número de delegados eleitos segue a proporção de 40%, 40% e 20%, respectivamente. Rachel Bragatto, do coletivo Intervozes, aponta que esse peso é injusto e foi assim estabelecido quando os empresários ameaçaram se retirar da Confecom, caso o número de delegados que pudessem nomear fosse reduzido. “Em nenhuma outra conferência o setor empresarial teve uma representação tão grande, tão alta e tão desigual em relação ao tamanho que representam na sociedade brasileira. A sociedade civil não é só 40%: é 99% do Brasil”, expôs Rachel na solenidade de abertura da Confecom paranaense.
A Confecom Nacional terá como tema Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital, presidida pelo Ministério das Comunicações e das Secretarias da Presidência da República e de Comunicação Social. A mobilização foi acionada pela Comissão Organizadora, composta por órgãos públicos e entidades da sociedade civil.
A comunicação que queremos
Nos debates, a essência é a mesma: é preciso garantir a participação da sociedade civil no sistema de comunicação, seja por meio de rádios comunitárias, TVs públicas, telefonia ou propostas de inclusão digital. A comunicação é um direito humano e esse direito não é completamente respeitado se os cidadãos não têm meios para manifestarem sua voz.
Aniela Almeida, diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, defende que é preciso lutar pela complementaridade dos sistemas público, estatal e privado. Ela cita a concentração cruzada da mídia paranaense como exemplo da distribuição desigual entre os setores: “aqui, a Globo possui 11 veículos através da RPC, em seguida vem a RIC com sete veículos e grupo Massa, também com sete”.
Entre as bandeiras, estão o controle das concessões de emissoras, descriminalização das rádios livres, distribuição mais justa dos canais de TV, tendo as veiculações públicas como prioridade e o Estado como aliado nessa transformação. Enquanto o setor privado for o detentor do monopólio midiático, a voz popular fica oculta, tímida e reprimida. Se a Conferência da Comunicação é o primeiro passo para garantir o direito humano de exercer e receber informações, ele precisa ser bem medido, bem calculado e bem estruturado, para que o passo seguinte – que efetiva as reivindicações e mantém firme a caminhada – ocorra em equilíbrio, sem cambalear.
NÚMEROS DA CONFERÊNCIA DO PARANÁ
800 inscritos
500 participantes, em média, nos três dias
177 propostas encaminhadas à Conferência Nacional
81 delegados (nove do poder público, 36 da sociedade civil e 36 da sociedade empresarial)
8 palestrantes entre três painéis de discussão
Todas e todos temos direito de manifestar nossas crenças, de reconhecer-nos em nossas origens, de incidir na evolução das tradições e da vida como um todo. Está assegurado em nossa constituição o direito individual de expressão, e queremos mais. Queremos assegurar o direito coletivo de se expressar, de participar da construção da realidade e dialogar em sociedade. A Comunicação Compartilhada do Festival de Cultura do Paraná é uma experiência para que aprendamos a exercer esse direito.
Texto publicado no site do Festival de Cultura do Paraná (http://festivaldecultura.art.br).